17 maio 2011
Camilo Castelo Branco
A novela passional:
Imagine a seguinte situação: um garoto de origem humilde fica órfão de mãe com 1 ano e de pai com 10 anos. Criado por uma tia e depois por uma irmã mais velha recebe uma educação provinciana e irregular. Aos 16 anos, casa-se com uma aldeã, mas logo a abandona e vai tentar cursar Medicina no Porto e em Coimbra. Por desilusão amorosa, torna-se seminarista, mas passa a viver inúmeras aventuras amorosas. Foge com Ana Plácido, mulher casada com um rico comerciante brasileiro.
Por crime de adultério, os amantes são presos. Nesse ínterim, publica a novela Amor de perdição (1862), que aproveita muito dessa experiência e lhe garante popularidade.
Finalmente absolvido, liga-se definitivamente a Ana Plácido, com quem se casa após a morte do marido. A partir daí, dedica-se a escrever livros como forma de sobreviver e torna-se o escritor mais lido de Portugal. Apesar disso, desgostos na família (dificuldades financeiras, a loucura de um filho) e a ameaça de cegueira levam-no cada vez mais ao desespero. Sem possibilidade de cura, suicida-se.
Essa história não é o enredo de nenhum romance romântico, mas a síntese da biografia de Camilo Castelo Branco (1825-1890), um dos mais fecundos escritores da literatura portuguesa. Um exemplo claro de como, no Romantismo, a vida se confunde com a arte.
As narrativas camilianas normalmente se ambientam em lugares que fizeram parte da vida do autor: uma vila ou uma aldeia provinciana, a cidade do Porto, o convento em que os pais enclausuravam as filhas desobedientes, a taberna aldeã, etc. Povoam esses ambientes tipos campesinos, que vão de fidalgos provincianos preconceituosos a elementos da burguesia portuense; mulheres de todas as condições sociais, da camponesa e da operária à fidalga; o padre, o comerciante com negócios no Brasil, a freira, o ferrador, o pedreiro, o salteador de estrada.
Na última fase de sua produção, Camilo deixou-se influenciar pelo romance naturalista e o imitou satiricamente nas obras A corja, Eusébio Macário e Vulcões de lama. Em A brasileira dos Prazins, contudo, o tratamento sério dado à obra mostra uma assimilação real, embora parcial, do Naturalismo, movimento da segunda metade do século XIX.
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