20 maio 2011
Erico Veríssimo – Olhai os Lírios do Campo
Entre 1936 e 1938- ano da publicação de Olhai os lírios do campo Erico Veríssimo dirigiu a revista A novela, cujo programa editorial consistia essencialmente na divulgação de grandes narradores estrangeiros desconhecidos no Brasil. Residiu aí o suporte do que viria a ser, logo depois, a célebre Coleção Nobel, na qual aparecem, entre outras, as traduções de Balzac, Proust e Virginia Woolf. O dado que pretende salientar encontra-se dentro da própria revista: os dois escritores que aparecem com maior freqüência e bem distanciados de todos os demais são, respectivamente, Somerset Maugam e Katharine Mansfield, quase sempre traduzidos pelo próprio Erico. Denunciando o gosto literário e as preferências pessoais do diretor de A Novela, essa informação também esclarece a gênese de Olhai os lírios do campo.
O escritor estava interessado na literatura de língua inglesa, situando-se na contramão de influência francesa, que, como se sabe, era preponderante na cultura brasileira da época. Mas já não navegava nas águas de Aldous Huxley e de Contraponto, que traduzira em 1934, na antecedência direta ao aparecimento de Caminhos cruzados. Seu estilo realista, aprimorando-se, encontrava novos parâmetros.
Os contos de Katherine Mansfield traziam ao primeiro plano a problematização das personagens, envolvendo-as numa densa atmosfera existencial, buscando na valorização dos detalhes aparentemente desimportantes e instauração de significados indispensáveis à decifração do mundo oferecido. Foi o que levou o crítico Jorge de Sena a falar de “uma argúcia realista, que é tecnicamente um das mais sutis do período”.
De fato, aí se lê o itinerário de Eugênio e Olívia, recém-egressos da Faculdade de Medicina de Porto Alegre dos anos 30. No entanto, trata-se de algo mais do que um simples tema versado com relativa freqüência pela literatura da época e consagrado em Servidão humana.
No entanto, a interpretação pode tornar-se redutora se limitarmos Olhai os lírios do campo à planície do “romance social”. Não é difícil perceber que aí também se inscreve – sem prejuízo do primeiro – um romance psicológico, cuja vigência garante o aprofundamento da narrativa. Precisamente por isso adquire relevância a questão do refinamento dos meios expressivos que Erico teria obtido na convivência de Katherine Mansfield, na tradução da prosa de filigranas existenciais urdida pela escritora neozelandesa.
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