Diferente das crises econômicas e políticas, a crise da água não costuma ser manchete em jornais.
Mas, ainda que sem alarde, a escassez desse recurso natural, o mais importante do planeta, já assume proporções de catástrofe iminente. Segundo a Organização das Nações Unida (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas não dispõem hoje do mínimo de água recomendado para as necessidades básicas de sobrevivência- matar a sede, cozinhar e fazer a higiene pessoal.
A estimativa é que, em 2025, a multidão de sedentos chegue a 1,8 bilhão de pessoas.
Silenciosa, essa crise vai se espalhando, democraticamente, de regiões pobres para outras, de grande de desenvolvimento econômico. A escassez de água e suas possíveis soluções são extremamente complexas.
Soma de problemas:
Essa complexidade pode ser retratada num único caso: a situação vivida hoje por Pequim, a capital da China. A cidade e os aglomerados humanos ao seu redor dispõem de somente 100mil litros de água por ano per capita para a sobrevivência de mais de 11 milhões de pessoas e a manutenção das atividades econômicas. Esse volume representa somente 10% do minimo recomendado pela ONU. O caso de Pequim reúne todos os fatores envolvidos na crise da água, num exemplo isolado da gravidade da situação mundial:
- Mudanças climáticas: as alterações no regime das chuvas fazem com que aumentem os meses de estiagem e a severidade das secas no norte do país.
O deserto de Gobi avança, ano a ano, cada vez mais sobre terras fértis, a oeste de Pequim. - Esgotamento das reservas subterrâneas: os aquíferos da região, que, no passado, ofereciam água de qualidade e em abundância, estão em processo de esgotamento.
- Poluição dos manaciais de superficie: o rio Amarelo (Huang Ho) abastaece a região do país na qual fica a cidade, mas está tão contaminado em certos trechos que sua água não é mais potável.
- Urbanização acelerada: o rápido crescimento industrial e econômico da China nas últimas décadas aumenta a migração do campo para as grandes cidades. Pequim não para de incorporar uma multidão de novos habitantes.
- Soluções de altíssimo custo: para dar conta da crescente demanda dos pequineses- além de outros 400 milhões de habitantes de grandes cidades chinesas das planícies do norte-, o governo da China começou a construir três canais que vão desviar água do rio Azul (Yang Tsé), mais de mil quilômetros ao sul. Os custos financeiros e socioecônomicos são imensos: 62 bilhões de dólares- o equivalente a três vezes e meia o Produto Interno Bruto (PIB) de Bolívia- e o deslocamento de milhares de famílias para abrir caminho aos canais. Pior: o desvio das águas do Yang Tsé ameaça desabastecer as populações do sul e ainda a sobrevivência do rio.
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